13/12/2013

Capítulo 7#

- Desculpa, eu não te devia ter seguido, eu...- tentei falar, ao menos.
- Não, desculpa eu, não devias ter visto estas merdas. Desculpa, a sério. E não fizeste mal nenhum em ter entrado Scarlet.
Adorava a maneira com que dizia o meu nome. Fazia com que até um nome parvo soasse perfeito. E irritava-me por isso. Afinal, porque é que estaria ele sequer a ser simpático comigo? Rapazes como ele não costumam estar com raparigas como eu.
- Ham, está a ficar tarde e eu devia de ir andando, sabes... é que...
- Não, espera! Há uma coisa que te quero mostrar!- interrompeu-me. Já estava a ficar cansada que me interrompessem tanta vez seguida num só dia.
Ele subiu as escadas a correr numa velocidade exagerada, como se eu fosse fugir para algum lado. Conseguia ouvir do outro lado das paredes a mãe dele ainda a chorar. O pai saíra de casa. Sentia raiva com aquilo, e alguma pena do Jordan. Afinal, como consegue ele sorrir sempre, com tanta coisa a acontecer-lhe? Decidi subir também as escadas, sorrateiramente, porque cada passo num sitio desconhecido é levado com cuidado. Então, subi as escadas cuidadosamente como se estivesse numa mina explosiva ou algo assim. Chegando ao topo da mina, olhei em redor e vi luz num quarto ao fundo do corredor. Espreitei ainda a medo que me tivesse enganado e que talvez nem devia ter subido as escadas. Espreitei para aquele quarto grande e ainda mais desarrumado que o resto da casa. Que estava eu à espera? Olhei bem para o quarto, todas as paredes estavam cobertas de desenhos. Não havia um único sitio naquelas paredes que não estivesse forrado de desenhos feitos ao pormenor. Eram lindos todos eles. De tudo e mais alguma coisa, dês de dragões aterrorizadores a paisagens feitas a carvão. Havia uma cama de casal enorme encontrada a uma parede do lado direito e por cima havia um desenho enorme, de uma árvore. Uma árvore sem folhas. Estava linda. Simples, mas linda. Ele estava agachado ao pé de um armário repleto de livros.
Entrei no quarto ainda a contemplar os desenhos em meu redor. Reparei num pequeno desenho que estava a um canto da parede. Era uma rapariga sentada num banco que me pareceu familiar. Estava com um livro na mão. Não, não podia ser. Era coincidência só podia ser, olhei melhor, sim, parecia mesmo, só que era mais perfeita do que eu e tinha umas asas grandes e perfeitas. Um desenho lindo.
Ele reparou para onde estava a olhar e levantou-se num salto, meteu-se à minha frente, tapando o desenho, parecia atrapalhado e conseguia perceber a aflição na voz dele.
- Ham... eu posso explicar...
Não consegui conter o riso e virei costas, poupando-lhe o embaraço. Apesar de que na minha mente passava-se tudo. Teria ele estado a observar-me? Se aquilo era eu, então ele estava a ver-me de uma forma estranha, perfeita, linhas perfeitas a carvão, uma silhueta única e bela com umas asas que me pareceram de anjo. Uma visão diferente da minha figura altamente triste. Ele passou por mim e voltou à estante de livros, pegando num livro pequeno, um excerto de Fernando Pessoa. Abriu o livro e algo estava a marcar a página. Um fio, um colar.

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