05/02/2014

Capítulo 11#

Saí de casa. Não aguentava tanta gente parva ao ponto de estar com Ben. Assim que cheguei ao passeio da rua, sentei-me e tentei respirar fundo. Olhei o céu durante um pouco. "Jordan". Como estaria ele?
Apercebi-me que estava de pijama na rua. Miúdos de bicicleta olhavam-me confusos. Aposto que queriam o mesmo. Que se lixe, meti a mão ao bolso e tirei um cigarro. Não costumo fumar. Mas, pais fora... e o Ben fez a festa, eu faço a minha. Acendi. Pus à boca, inspirei e expirei para o ar. Relaxante. Ouvi coisas a partirem-se dentro de casa. Uma luta? Levantei-me e fui ver o que era. Abri a porta e andei pelo corredor à procura dos barulhos das coisas a partir. Cozinha.
- És um porco! Um merdoso! Que nojo!
Só podia ser uma badalhoca. Até que fui me aproximando da cozinha e a voz era-me familiar. Era uma ex-namorada do meu irmão. Apenas mais uma badalhoca, estava certa a final de contas. Vivian, era o nome dela. Morena com olhos azuis que sempre julguei serem lentes, alta e com um peito que apostava que é 90% silicone.
- Que te interessa Vi?! Deixa a festa acontecer!
Sempre odiei ouvi-lo bêbado. Entrei para controlar os dois ou pelo menos deixar a Vivian desconfortável. Nunca gostou de mim. Nem eu dela. Entrei.
- Parece que afinal é difícil deixar os velhos hábitos.
Ela olhou para mim, provavelmente ainda na pensar no que eu disse, céus, como ela é lerda.
- Scar.- Bufou- Já só faltavas tu, não é? Adeus, Ben, cuida-te.
Passou por mim na porta e desfilou pelo corredor ainda a refilar baixinho. Eu não podia deixar de sorrir.
Após Ben tentar me contar como é que ela tinha aparecido, levei-o lá para baixo, para ver se ele dormia um pouco. Adormeceu assim que se deitou.
Saí da cave e comecei a acordar as histéricas e os sobreviventes para os mandar porta fora. Assim que me vi livre dos que ainda conseguiam andar, fui ver "o quarto". Acontece que o meu irmão tenta ter sortes, e por isso leva uma ou duas, ou três raparigas para "o quarto" que é o escritório do meu pai quando ele cá vem, mas enquanto não está, serve de quarto de sorte, onde é colocado o colchão mais nojento já visto e umas quantas velas.
Estavam duas desta vez. Uma completamente apagada e outra que dizia ter quase a certeza ter feito coisas ilegais. Sempre boa informação.
Esta rotina era aborrecida. Nas primeiras vezes tinha piada ajudar o irmão mais velho, mas limpar vómito, apanhar lixo e explicar à maior parte das pessoas onde estão torna-se enfadonho e ligeiramente nojento.
Deixei a casa limpa e livre de sobreviventes, tomei um duche e fui ver Ben. Ainda deitado a dormir.
Subi as escadas e deixei Gorillaz a tocar enquanto lia "O Canto de Mim Mesmo."
Até que ouvi algo a bater. Alguém tinha partido algo em casa? Como? O Ben estava a dormir ferrado. Ouvi melhor. Pedras contra a janela.

30/01/2014

Capítulo 10#

 – Há alguém lá fora. – disse-me.
- Quantos alguéns?
Ele suspirou e já de joelhos implorou-me: - São só algumas pessoas, querida maninha inocente, deixa o teu irmão mais velho ter alguma sorte, Scar!
- Não me chames isso e temos acordo. E ninguém aqui.
- Feito.- Correu casa fora e ouvi as histéricas a entrar, são sempre as primeiras a chegar e as últimas a sair.
Decidi manter a música e despachar-me para me deitar. Festas do Ben apenas dão-lhe oportunidade de ter sorte com umas badalhocas. Após me despachar, deitei-me no quente conforto da minha cama com o computador ao colo. O som lá em baixo enerva-me sempre um pouco: As histéricas gritam, os rapazes gritam enquanto bebem e a música é do piorio. E só de pensar no vómito que teria de limpar no dia a seguir…
Desliguei o computador. Deitei-me completamente e fiquei a fitar a minha pequena caixa que está numa mesa-de-cabeceira. “Hoje não, Scarlet, hoje não… vá lá…”, virei-me. Adormeci.
Deviam de ser 5 da manhã quando acordei de repente. O alçapão estava aberto. Entraram. Olhei à minha volta, fui à minha pequena casa de banho de sótão e lá estava um dos rapazes deitado no chão, após vomitar adormecera, supus. Bati-lhe com o pé um vez e outra e outra… Tirei a escova de dentes do copo, enchi-o de água e atirei-lhe à cara. Acordou num salto.
- Mas que mer…? Olá!!!
- Estás onde não devias.- Chutei.
Ele levantou-se, desafiando o meu olhar e dirigiu-se para a porta.
- Desculpe, sua alteza.
"Idiotas". Esperei que ele descesse, para eu fazer o mesmo. A casa praticamente vazia, sem contar com os copos no chão, as fitas coloridas, bebidas entornadas e algumas alminhas deitadas.
Confusão.


25/01/2014

Capítulo 9#

 Desci a rua, sempre com a ideia de que ele ainda me estava a observar. Eu só queria ir para casa. Para o meu quarto, sozinha.
Pensei nos rapazes lá da escola, dos pais do Jordan, naquela confusão de desenhos e no colar. Muita coisa. Demasiada coisa. Cheguei a casa, abri o portão, atravessei o pequeno quintal e antes de abrir a porta, sai uma rapariga de dentro. Salto alto, cabelos compridos, maquilhagem carregada de cores e se estivesse de fio dental e top estaria mais vestida que aquilo. Olhou-me tirando as medidas com o olhar, virou cara e sorriu convencendo-se da sua superioridade. Não resisti à estupidez e revirei os olhos. “Ben”, pensei.
Entrei, ainda pensando no quão fantástico era o facto de conseguir ver as cuecas da rapariga de tão curta que aquela amostra de saia era.  Tudo em casa estava normal, silenciosa, aborrecida. Fui à cave. Desci aquelas escadas estreitas e escuras. Até sentir um cheiro horrível a suor. Abri a porta da cave e lá estava ele deitado na sua cama de casal, ainda atrapalhado a vestir as calças à pressa.
- Benjamin Evans, não tens remédio.
Ele continuava a vestir-se à pressa. Apanhou um sutiã do chão e escondeu-o na almofada.
- A badalhoca nem o sutiã voltou a vestir? Onde foste engatar esta?- gozei.
- Que queres, Scarlet?
- Os pais?
- Jantar fora, aquela tentativa de falarem de algo interessante e produtivo para se sentirem um casal, só devem voltar amanhã de manhã. Tens planos?
Encolhi os ombros. Era uma pergunta retórica, nunca tenho planos. Saí da cave e fui para o belo sótão a que chamo quarto puxei as escadas dobradas no teto e entro. Meti um álbum de Pantera a dar no leitor de CD’s e deitei-me na cama a cantar. Passado uma hora, já farto, Ben ainda gritava para eu baixar o som, em vão. Apenas rio.
O alçapão é aberto e ele espreita.
- És a irmã mais parva que poderia haver, não me ouves? Baixa a porra desses berros. Há alguém lá fora.

24/01/2014

Capítulo 8#

-Isto é um pouco estranho, mas isto é teu.- disse-me.
Espreitei, sim, era. Pensava que o tinha perdido, mas pouca importância tinha. Era apenas um colar barato que me fora oferecido por uma daquelas tias que nem me lembro do nome.
- Há umas semanas, no início da escola, deixaste-o cair, eu apanhei e não tive a decência de o devolver. Mas já agora…- com muita calma, rodeou-me e foi para trás de mim.- Podes desviar o cabelo?
Ele colocou-me o colar e após isso, eu virei-me, ele olhou para mim e sorriu. "Pateta", pensei. Mas apesar de tudo, fez-me corar e isso irritou-me. 
-Obrigada.
E fui andando para a porta. Saí do quarto e desci as escadas, ele vinha atrás, claro. Sim, gostei do gesto, mas estava a ficar tarde e incomodava-me tanta conversa simpática comigo, tanto sorriso e carinho, totalmente desnecessário, se ele pensa que consegue encantar-me como as outras, oh... Rapazes bonitos....mas pouco importava, tinha de ir embora. Abri a porta de casa e saí, quando ia a fechar a porta ele coloca o pé, não me deixado fechar e abre a porta.
- Depois vemo-nos?- disse com aquele sorriso de quem tenta mostrar charme.


- Tanto faz, como queiras. 

13/12/2013

Capítulo 7#

- Desculpa, eu não te devia ter seguido, eu...- tentei falar, ao menos.
- Não, desculpa eu, não devias ter visto estas merdas. Desculpa, a sério. E não fizeste mal nenhum em ter entrado Scarlet.
Adorava a maneira com que dizia o meu nome. Fazia com que até um nome parvo soasse perfeito. E irritava-me por isso. Afinal, porque é que estaria ele sequer a ser simpático comigo? Rapazes como ele não costumam estar com raparigas como eu.
- Ham, está a ficar tarde e eu devia de ir andando, sabes... é que...
- Não, espera! Há uma coisa que te quero mostrar!- interrompeu-me. Já estava a ficar cansada que me interrompessem tanta vez seguida num só dia.
Ele subiu as escadas a correr numa velocidade exagerada, como se eu fosse fugir para algum lado. Conseguia ouvir do outro lado das paredes a mãe dele ainda a chorar. O pai saíra de casa. Sentia raiva com aquilo, e alguma pena do Jordan. Afinal, como consegue ele sorrir sempre, com tanta coisa a acontecer-lhe? Decidi subir também as escadas, sorrateiramente, porque cada passo num sitio desconhecido é levado com cuidado. Então, subi as escadas cuidadosamente como se estivesse numa mina explosiva ou algo assim. Chegando ao topo da mina, olhei em redor e vi luz num quarto ao fundo do corredor. Espreitei ainda a medo que me tivesse enganado e que talvez nem devia ter subido as escadas. Espreitei para aquele quarto grande e ainda mais desarrumado que o resto da casa. Que estava eu à espera? Olhei bem para o quarto, todas as paredes estavam cobertas de desenhos. Não havia um único sitio naquelas paredes que não estivesse forrado de desenhos feitos ao pormenor. Eram lindos todos eles. De tudo e mais alguma coisa, dês de dragões aterrorizadores a paisagens feitas a carvão. Havia uma cama de casal enorme encontrada a uma parede do lado direito e por cima havia um desenho enorme, de uma árvore. Uma árvore sem folhas. Estava linda. Simples, mas linda. Ele estava agachado ao pé de um armário repleto de livros.
Entrei no quarto ainda a contemplar os desenhos em meu redor. Reparei num pequeno desenho que estava a um canto da parede. Era uma rapariga sentada num banco que me pareceu familiar. Estava com um livro na mão. Não, não podia ser. Era coincidência só podia ser, olhei melhor, sim, parecia mesmo, só que era mais perfeita do que eu e tinha umas asas grandes e perfeitas. Um desenho lindo.
Ele reparou para onde estava a olhar e levantou-se num salto, meteu-se à minha frente, tapando o desenho, parecia atrapalhado e conseguia perceber a aflição na voz dele.
- Ham... eu posso explicar...
Não consegui conter o riso e virei costas, poupando-lhe o embaraço. Apesar de que na minha mente passava-se tudo. Teria ele estado a observar-me? Se aquilo era eu, então ele estava a ver-me de uma forma estranha, perfeita, linhas perfeitas a carvão, uma silhueta única e bela com umas asas que me pareceram de anjo. Uma visão diferente da minha figura altamente triste. Ele passou por mim e voltou à estante de livros, pegando num livro pequeno, um excerto de Fernando Pessoa. Abriu o livro e algo estava a marcar a página. Um fio, um colar.

07/12/2013

Capítulo 6#

Parei para escutar.
- Outra vez não, chiça. - bufou e suspirou, chateado, presumi eu.
Entrou de rompante na casa, pensei que provavelmente fosse partir a porta ou algo assim. Segui-o. Talvez na tentativa de o apanhar e acalmar.
Entrei na casa, desarrumada como o quintal, muita tralha no chão e os gritos intensificavam-se quanto mais andava. Vinham da cozinha. Os pais do Jordan atiravam coisas enquanto gritavam. Disseram mais palavras cruéis em 5 minutos do que eu dissera na minha vidinha inteira. Haviam pratos a voar por todo o lado, cadeiras partidas no chão... demasiada confusão, via-o frustrado a andar rápido na direcção de quem eu supus ser o pai dele.
- Outra vez!? Mas não há um dia de descanso?! - gritava ele, atirando o pai contra a parede da cozinha.
Eu paralisei. Não devia de estar ali, não devia de ter entrado, devia ter me ido embora. A mãe dele chorava, o pai num empurrão atirou o rapaz ao chão e saiu da cozinha, passando por mim, zangado.
A mãe caiu ao chão, exausta, chorando. Jordan, foi ter com ela e abraçou-a. E aí, ela olhou para mim. Levantou-se, recompôs-se e veio até mim.
- Olá minha querida. - disse, limpando as lágrimas.
Eu também a queria abraçar, queria muito.
- Boa Tarde, ham, peço desculpa ter entrado e...- tentei
- Oh meu Deus, desculpa eu! Que confusão está esta casa! Jordan, podias ao menos ter dito que ia-mos ter visitas!
Ele sorriu.
Ela saiu apressada da cozinha, e eu fiquei a olha-lo. E ele a mim.

03/12/2013

Capítulo 5#

Leis da existência? Simplesmente nasci? Talvez o entendesse, e queria entender. Algo nele fazia as minhas pernas tremer e a minha mente ficar confusa, queria mesmo entendê-lo. Estávamos a caminhar por entre aquelas paredes brancas, simples da escola. Estava silêncio, entre nós, talvez porque ele não conseguia dar explicações e eu não tenho habilidade para conversas de circunstância, ou outro tipo de conversas.
- E a Srª. Evans dá-me a honra de me acompanhar até minha casa? - perguntou-me, sem desviar o olhar do caminho a percorrer.
- Claro, com toda a certeza, Sr...- apercebi-me que nem o nome dele sabia.
- Jordan.
- Sr. Jordan!
Ele riu-se. Mas não com aquele sorriso de alguém que tenta ser sensual e atraente. O sorriso verdadeiro dele. Lindo e estranho. Um sorriso pateta.
Continuamos a andar, eu apenas o seguia. Falamos de tudo um pouco e por entre conversas, ele tentava fazer-me sorrir. Ver-me rir. Gostei das tentativas, sentia-me especial com toda aquela atenção. Não, não me ri. É difícil fazer-me rir nestes dias.
Entretanto ele parou de andar. Em frente a uma casa pequena, com um quintal devastado de tralha como armários antigos e partidos, antigos sofás e todo o tipo de latas e conservas. Ele abriu o pequeno portão e eu segui-o, contemplando a confusão.
- Bem, se calhar eu devia de ir andando e... - tentei dizer.
- Shiu! Espera! - sussurrou.
Mandou-me calar? Pensei se era suposto ter piada e quanto mais pensava nisso mais intrigada ficava. Até que ouvi.
Vinham gritos de dentro da casa.

29/11/2013

Capítulo 4#

Eu estava parada no centro do círculo apenas a olhar. Não tinha reação. Como é que ele não ripostou? Como é que consegue sorrir ao me ver? Ele estava apenas deitado no chão, indefeso, a esperar que aquelas bestas se fartassem de o torturar.
Os cinco rapazes pararam também e olhavam-me.
-Não te metas aqui miúda.- disse uma das bestas, agarrando-me no braço. Os restantes quarto afastaram-se com indiferença e foram-se embora. Enquanto aquele se mantinha agarrado ao meu braço esperando que eu o obedecesse.
Olhei-o tentando mostrar-me imune a qualquer ordem que este me dê.
- Larga-me, agora. - disse, fazendo-o largar-me.
Pensava que ele se ia embora mas foi aí que, quando me virei, apalpou-me o rabo.
- Que bela namoradinha que aqui tens, larilas.
Antes que eu pudesse sequer pensar em dizer algo, o rapaz levantou-se do chão e num segundo deu um soco em cheio na besta, que ripostou, mandando o rapaz de volta ao chão.
Após rir-se, a besta vai se embora. Eu ajoelho-me ao lado do rapaz, tentando pensar em algo para dizer, para o reconfortar.
- Mas... quem é...
- Chuck. O nome daquele porco, é Chuck.- ripostou o rapaz.
Agora, a besta tinha nome.
- Mas, ham, estás bem? - tentei ao menos perguntar algo.
- Sim, Scarlet Evans, estou ótimo.- disse ao levantar-se.
- Porque é que te fariam tal coisa? Fizeste-lhes algo?
- São as leis da existência, Scarlet. Eu simplesmente... nasci. - respondeu-me, sorrindo.

27/11/2013

Capítulo 3#

As aulas passavam lentamente e eu estava quase a ver-me obrigada a arrancar o relógio da parede, para depois, eu própria simular o toque de saída.
A espera era interminável, e eu não parava de pensar naquele rapaz. Que teria ele visto em mim?
E por fim, a pouco maravilhosa professora de Geografia, deu a aula como terminada e pudemos sair. Esperei que todos saíssem e saí por último.
Os meus olhos percorriam os corredores à procura dele. Enquanto isso, num dos corredores reparei que estavam cinco rapazes em círculo a rirem-se. Parecia-me tudo muito estranho e algo me incomodava, olhei melhor para o grupo e percebi que havia alguém no centro do círculo. Alguém a ser gozado. Aquilo fazia uma fúria incontrolável dentro de mim. Queria pôr fim naquilo, não sabia quem era, mas ninguém merece aquilo, ninguém.
Involuntariamente dei por mim a ir ter com eles, de punhos e dentes cerrados. Riam-se alto e erguiam punhos ao ar como se trinfassem. Não. Não era isso. Estavam a espanca-lo. Aos pontapés, socos e puxões.
Empurrei um deles apesar de este ser bastante robusto, e meti-me no meio do círculo.
E aí o vi, indefeso, espancado, mas mesmo assim, ao me ver, sorriu com o canto dos lábios, como só ele faz, e sussurrou.
- Scarlet.

25/11/2013

Capítulo 2#

Sentia que só podia estar a alucinar, ou algo do género.
- Hei.
- Hei - respondi eu, com a minha voz a soar mais nervosa do que eu esperava.
- Que andas a ler? - perguntou, enquanto se sentava a meu lado.
Desviei o olhar.
- "As Folhas de Erva" de Walt Whitman.
- «Entrego-me à terra para crescer da erva que amo. Se me queres de volta, procura-me debaixo da sola das tuas botas.» - citou.
Cada palavra dele parecia planeada, sábia e bela. Dei por mim a olha-lo e a contempla-lo. Ele esperava uma resposta minha e como não tenho jeito para respostas limitei-me a perguntar:
- Hã?
- É uma parte do livro. "O canto de Mim Mesmo", sabes? - ele continuava a sorrir.
- Ah... Sim, sei...
- É uma metáfora. Fala de que quando morremos voltamos às nossas origens. Voltamos à terra, e depois crescemos da erva. A erva simboliza a vida, a esperança e por fim, a morte.
Eu nem sabia o que dizer. Ele tinha lido o livro, e estava a cita-lo. A mim. Entretanto acordei e percebi que tinha de ir para as aulas. Levantei-me e ele fez o mesmo. Eu não conseguia dizer nada, estava demasiado pasmada com a situação. Comecei a andar para a sala e ele seguia-me. Olhei para trás e ele já não sorria. Parecia atrapalhado a vir atrás de mim. A perder-se na multidão. Eu já mal o conseguia ver. Ali, ao longe. Até que ele grita.
- Espera! Não me disseste o teu nome! Espera!
Mas eu não conseguia esperar. Não sei. Eu não estava a acreditar que um rapaz como ele tenha sequer vindo falar comigo, não podia ser. Mas era. Tinha. Comigo. Parei, virei-me e gritei em resposta.
- Scarlet! Scarlet Evans!
Ao ouvir, ele sorri.


24/11/2013

Capítulo 1#

Levantei-me cedo naquela manhã de Inverno. Era apenas um dia como os outros.
Preparei-me para sair, como todas as manhãs; levei toda aquela montanha incrivelmente pesada de livros, como sempre; entrei na escola e no meio da confusão sentei-me no mesmo banco de sempre, a ler, como sempre. Esperando o toque de entrada que iria fazer todos num alvoroço, para depois ficar durante as aulas, numa dita guerra contra o tempo.
Estava tudo como sempre, até que o vi.
Ali, no meio de pessoas que gritavam e festejavam, ali estava ele, a olhar para mim. Com tanta gente e ele fixava o olhar em mim.
Voltei a olhar para o meu livro, mas ainda sentia aqueles grandes olhos a observarem-me. Porquê? Apercebi-me do quão mau eu estava e naquilo que ele havia de estar a observar: o meu cabelo mal penteado, as minhas roupas escolhidas ao acaso, completamente desgastadas, e a minha capacidade incrível de não saber fingir que estou focada a ler.
Desisti e olhei para ele, retribuindo o olhar fixo, afinal, não é só ele que pode fixar o olhar, certo? E foi aí que o vi sorrir, apenas com o canto dos lábios, um sorriso querido e de alguma forma, sensual. Sorria para mim e eu senti-me corar. Ele era alto, mas de corpo bem feito, um cabelo penteado de forma a parecer desleixado e tinha aqueles olhos...
O toque de entrada faz se ouvir e todos começam uma guerra para chegar às salas, mas nem ele, nem eu nos mexemos. Continuamos a trocar olhares e sorrisos o que pareceu uma eternidade. Até que ele começa a movimentar-se. Até mim.

23/10/2013

#7 "Sim."

Uma vez vi um num filme, duas amigas a falar e uma diz: "Sou tão estúpida."
E a outra em resposta: "Não és estúpida, estás apaixonada, só isso."

Mas... não é isso que o amor faz? O amor deixa-nos estúpidas. Sem controlo. Sem pensar bem. Distraídas. Ansiosas, nervosas, desesperadas, com medo, pânico, com felicidade (mas raiva) ciumes, loucas e estúpidas. Completamente estúpidas e sem sentido. O amor consegue tirar-nos o sono, faz-nos querer estar extremamente bem arranjadas, por vezes até nos tira a vontade de comer. O amor, consegue ser das melhores e piores coisas do mundo. Faz-nos chorar e rir, sentimos-nos rainhas do mundo, ou então que não somos boas o suficiente. Faz-nos ser tudo e não ser nada. São demasiadas emoções ao mesmo tempo, demasiada confusão. Esgota-nos. Cansa. O amor cansa. O amor talvez seja mesmo uma mistura de sentimentos indistinguíveis. Ser ordem ou controlo. O amor faz-nos esgotar tudo. Faz-nos não aguentar. É tóxico. Muito tóxico. Uma das emoções tóxicas mais perigosas. Faz-nos cair e é tão difícil levantar... Tentamos não pensar nisso, ocultar de nós mesmas. Mas não dá, porque está sempre lá a dominar-nos os pensamentos e emoções, a confundir-nos e a esgotar-nos.
Sim, é isso que o amor faz. Reflete o nosso lado estúpido e esgota-o. O nosso lado forte e esgota-o.
O amor é imperdoável, e doloroso. Sim, é isso. Confunde-nos até os próprios sentimentos. É raiva ou ciume? É ansiedade ou felicidade? É confuso. O amor é confuso. Não sei porque vivemos à base dele. Porque nos "alimentamos" dele. Porquê? Porque gostamos da confusão? Da mistura de sentimentos? Da dor? "A dor exige ser sentida". Tal como o amor. Sim, é isso. O amor exige ser sentido.

13/10/2013

#6 "You go!"

"If you are reading this, you have survived
your entire life until this point,
you have survived traumas, devastation, heartbreak
the different phases of life, and here you are,
you go motherfucker,
 you are AWESOME! "

12/10/2013

#5 "You'll be fine (: "

"Só mais um dia. Só mais um dia. Tu aguentas mais um dia." Aguentamos? Será que aguentamos mesmo, ou forçamos-nos a acreditar que aguentamos? Porque não. Não aguento. Não suporto. "Respira fundo, tem calma, vai passar" Vai? Vai mesmo? Estou à espera que passe. Respirar? O meu respirar tornou-se num controlo constante. "Vais ver que vai tudo ficar bem, vais ficar bem" No fundo sabemos que sim. Sabemos que vamos ficar bem, porque TEMOS de ficar bem. Cansa dizer isto todos os dias. Mentalizar-nos  disto. Tentar convencer-nos, de que temos de aguentar este dia. E o seguinte e o seguinte. Temos de acreditar que tudo se vai resolver, que tudo vai passar. Mas vai? Ou teremos de ficar, até ao resto dos nossos dias, a pensar que tudo vai ficar bem? É que não aguento. Ninguém aguenta. Ninguém consegue aguentar o tempo todo, a toda a hora. Ninguém. Ninguém se consegue mentalizar de tais coisas a toda a hora, até porque o que mais temos é perguntas. Se vai acontecer ou não, se vai acabar ou não. Tudo são perguntas. A que não temos as respostas. Mas somos obrigados a pensar que as respostas serão positivas. "Vais ver que consegues. Tu consegues. É só mais estes dias. Vá, sê forte. Vai tudo correr bem, vais ver que tudo vai correr no melhor. Só tens de ser forte."  Somos nós que temos de dizer isto nas nossas mentes. Porque ninguém nos diz. Ninguém sequer repara. Ninguém repara que talvez, o que precisávamos mesmo para aguentar "mais um dia", era um simples abraço. Umas simples palavras de ajuda. Mas não. Temos de ser sempre nós. A nós mesmos. Mas olha, mantemos esta promessa à demasiado tempo para desistirmos agora, não achas? Não desistas. Eu sei que cansa. Cansa muito. Mas temos de aguentar. Eu tenho de aguentar. Não posso desistir. E tu também não.
Se sentes que ninguém se importa, eu importo-me. Não estás só. Sorri. Sorri por mim, sorri por ti. Pelos que amas. Respira fundo e sorri. Com o teu sorriso mais belo. Porque tens um sorriso lindo. Tal como tu.
Porque um dia , um dia "irás ver que tudo foi apenas um pesadelo".

10/10/2013

4# "Eu."

Sim, eu quero tudo de volta. Não entendes. Não percebes. Não compreendes. Quero ter aquele sorriso de volta, quero o meu sorriso de volta. Sem ter de o fingir. Quero poder gritar bem alto que estou bem e que a vida continua. Quero ver todos bem por me terem por perto e felizes por me ouvirem. Porque ninguém ouve, nem vê. Quero poder respirar sem me sentir a afogar. Sim, afogar sem água. A afogar com as palavras, porque pode-se afogar sem água. Afogar nos pensamentos...
Tu não percebes, ele não percebe. Talvez por não querem perceber, nem olhar. Ou eu não consigo demonstrar nem explicar. Talvez eu me tenha calado. Talvez eu tenha de chamar. Mas para quê? Para quê se ninguém me vê? Se ninguém entende? Porque hei de tentar falar se ninguém ouve? Eu quero tudo de volta. Sim, eu quero. Quero-me de volta. Não quero estar mais perdida. Quero encontrar-me. Porque estou perdida, perdida nesta confusão de pensamentos, perdida dentro de mim. Procurando ter-me de volta. Porque estou tão longe... Afinal... Quem é esta rapariga no meu espelho? Quem é esta? O que lhe aconteceu? Onde fora aquela que acordava sem dor? Onde é que ela foi? Onde é que ela está? Talvez se tenha perdido. Preciso de encontrá-la. Preciso de encontrar-me. Preciso de ter o meu sorriso. O verdadeiro.
Pelo menos, só mais uma vez.

07/10/2013

#3 "Música"

Deixo-vos uma música das melhores bandas de sempre. "The Pretty Reckless"
Rock.

http://www.youtube.com/watch?v=p_zBlpFQPkM

#2 "Tributo a Mitch Lucker"

Foi pedido num teste de português para escrevermos sobre alguém que nos influenciou de alguma forma na nossa vida. Boa ou má. Eu decidi escrever sobre um herói que, com a sua maneira, me influenciou e teve um impacto incrível na minha vida.
"Normalmente as pessoas fariam este texto sobre os pais ou alguém que esteve lá para abraçar, etc. Mas eu não. Eu vou falar de um alguém que me ajudou com as palavras, com a música. Este alguém que, quando morreu, me fez derramar lágrimas até não puder mais. Pode parecer estranho, mas de certa forma, foi o único que esteve sempre lá para mim, aquele homem coberto de tatoos e anormalmente anoréctico. Aquele que passou por dificuldades semelhantes às minhas e ao cantar a sua opinião ajudou como ninguém. Bastava colocar os fones e deixar que ele e só ele me entendesse. Acalmou-me quando precisei e impediu-me as lágrimas como ninguém. Muitos não entendem como é sentir um impacto tão grande por alguém que nem nos conhece e talvez nem eu entenda, mas aconteceu, acontece. E ainda hoje quando estou num dia mau, oiço-o. relaxa-me, acalma-me e percebe-me... percebe-me como só ele o faz.
RIP Mitch Adam Lucker."

#1 "Excerto"

"Não aguento é claro que não. Arrasto-me para fora dos pesadelos todas as manhãs e descubro que não há alivio ao acordar. O melhor é nunca ceder. É dez vezes mais difícil voltarmos a erguer-nos do que irmos abaixo."- Jogos da Fome, livro III.

30/09/2013

Introdução.

Não vai ser fácil falar de mim, talvez porque talvez nem eu me conheça. Sou um pouco desconhecida e previsível demais. Sou estranha desta minha forma. Sou este conjunto de prós e contras. Este conjunto de contrários.
Mas falando o que eu sei. Gosto de boa musica, como The Pretty Reckless, Pierce The Veil, Suicide Silence, Memphis May Fire, 30 Seconds to Mars, Asking Alexandria, BVB, e mais uns quantos.
Tenho um carinho especial por Tattoos.
Passo muito do meu tempo a ler. Sim, sou daquelas que gosta de ler e ouvir boa musica. Daquelas que fica apenas e somente com os seus pensamentos e que se deixa levar para o mundo dos livros ou pelas palavras de uma boa musica.
Bem, esta sou eu. A estranha. A que darei a conhecer melhor.