29/11/2013

Capítulo 4#

Eu estava parada no centro do círculo apenas a olhar. Não tinha reação. Como é que ele não ripostou? Como é que consegue sorrir ao me ver? Ele estava apenas deitado no chão, indefeso, a esperar que aquelas bestas se fartassem de o torturar.
Os cinco rapazes pararam também e olhavam-me.
-Não te metas aqui miúda.- disse uma das bestas, agarrando-me no braço. Os restantes quarto afastaram-se com indiferença e foram-se embora. Enquanto aquele se mantinha agarrado ao meu braço esperando que eu o obedecesse.
Olhei-o tentando mostrar-me imune a qualquer ordem que este me dê.
- Larga-me, agora. - disse, fazendo-o largar-me.
Pensava que ele se ia embora mas foi aí que, quando me virei, apalpou-me o rabo.
- Que bela namoradinha que aqui tens, larilas.
Antes que eu pudesse sequer pensar em dizer algo, o rapaz levantou-se do chão e num segundo deu um soco em cheio na besta, que ripostou, mandando o rapaz de volta ao chão.
Após rir-se, a besta vai se embora. Eu ajoelho-me ao lado do rapaz, tentando pensar em algo para dizer, para o reconfortar.
- Mas... quem é...
- Chuck. O nome daquele porco, é Chuck.- ripostou o rapaz.
Agora, a besta tinha nome.
- Mas, ham, estás bem? - tentei ao menos perguntar algo.
- Sim, Scarlet Evans, estou ótimo.- disse ao levantar-se.
- Porque é que te fariam tal coisa? Fizeste-lhes algo?
- São as leis da existência, Scarlet. Eu simplesmente... nasci. - respondeu-me, sorrindo.

27/11/2013

Capítulo 3#

As aulas passavam lentamente e eu estava quase a ver-me obrigada a arrancar o relógio da parede, para depois, eu própria simular o toque de saída.
A espera era interminável, e eu não parava de pensar naquele rapaz. Que teria ele visto em mim?
E por fim, a pouco maravilhosa professora de Geografia, deu a aula como terminada e pudemos sair. Esperei que todos saíssem e saí por último.
Os meus olhos percorriam os corredores à procura dele. Enquanto isso, num dos corredores reparei que estavam cinco rapazes em círculo a rirem-se. Parecia-me tudo muito estranho e algo me incomodava, olhei melhor para o grupo e percebi que havia alguém no centro do círculo. Alguém a ser gozado. Aquilo fazia uma fúria incontrolável dentro de mim. Queria pôr fim naquilo, não sabia quem era, mas ninguém merece aquilo, ninguém.
Involuntariamente dei por mim a ir ter com eles, de punhos e dentes cerrados. Riam-se alto e erguiam punhos ao ar como se trinfassem. Não. Não era isso. Estavam a espanca-lo. Aos pontapés, socos e puxões.
Empurrei um deles apesar de este ser bastante robusto, e meti-me no meio do círculo.
E aí o vi, indefeso, espancado, mas mesmo assim, ao me ver, sorriu com o canto dos lábios, como só ele faz, e sussurrou.
- Scarlet.

25/11/2013

Capítulo 2#

Sentia que só podia estar a alucinar, ou algo do género.
- Hei.
- Hei - respondi eu, com a minha voz a soar mais nervosa do que eu esperava.
- Que andas a ler? - perguntou, enquanto se sentava a meu lado.
Desviei o olhar.
- "As Folhas de Erva" de Walt Whitman.
- «Entrego-me à terra para crescer da erva que amo. Se me queres de volta, procura-me debaixo da sola das tuas botas.» - citou.
Cada palavra dele parecia planeada, sábia e bela. Dei por mim a olha-lo e a contempla-lo. Ele esperava uma resposta minha e como não tenho jeito para respostas limitei-me a perguntar:
- Hã?
- É uma parte do livro. "O canto de Mim Mesmo", sabes? - ele continuava a sorrir.
- Ah... Sim, sei...
- É uma metáfora. Fala de que quando morremos voltamos às nossas origens. Voltamos à terra, e depois crescemos da erva. A erva simboliza a vida, a esperança e por fim, a morte.
Eu nem sabia o que dizer. Ele tinha lido o livro, e estava a cita-lo. A mim. Entretanto acordei e percebi que tinha de ir para as aulas. Levantei-me e ele fez o mesmo. Eu não conseguia dizer nada, estava demasiado pasmada com a situação. Comecei a andar para a sala e ele seguia-me. Olhei para trás e ele já não sorria. Parecia atrapalhado a vir atrás de mim. A perder-se na multidão. Eu já mal o conseguia ver. Ali, ao longe. Até que ele grita.
- Espera! Não me disseste o teu nome! Espera!
Mas eu não conseguia esperar. Não sei. Eu não estava a acreditar que um rapaz como ele tenha sequer vindo falar comigo, não podia ser. Mas era. Tinha. Comigo. Parei, virei-me e gritei em resposta.
- Scarlet! Scarlet Evans!
Ao ouvir, ele sorri.


24/11/2013

Capítulo 1#

Levantei-me cedo naquela manhã de Inverno. Era apenas um dia como os outros.
Preparei-me para sair, como todas as manhãs; levei toda aquela montanha incrivelmente pesada de livros, como sempre; entrei na escola e no meio da confusão sentei-me no mesmo banco de sempre, a ler, como sempre. Esperando o toque de entrada que iria fazer todos num alvoroço, para depois ficar durante as aulas, numa dita guerra contra o tempo.
Estava tudo como sempre, até que o vi.
Ali, no meio de pessoas que gritavam e festejavam, ali estava ele, a olhar para mim. Com tanta gente e ele fixava o olhar em mim.
Voltei a olhar para o meu livro, mas ainda sentia aqueles grandes olhos a observarem-me. Porquê? Apercebi-me do quão mau eu estava e naquilo que ele havia de estar a observar: o meu cabelo mal penteado, as minhas roupas escolhidas ao acaso, completamente desgastadas, e a minha capacidade incrível de não saber fingir que estou focada a ler.
Desisti e olhei para ele, retribuindo o olhar fixo, afinal, não é só ele que pode fixar o olhar, certo? E foi aí que o vi sorrir, apenas com o canto dos lábios, um sorriso querido e de alguma forma, sensual. Sorria para mim e eu senti-me corar. Ele era alto, mas de corpo bem feito, um cabelo penteado de forma a parecer desleixado e tinha aqueles olhos...
O toque de entrada faz se ouvir e todos começam uma guerra para chegar às salas, mas nem ele, nem eu nos mexemos. Continuamos a trocar olhares e sorrisos o que pareceu uma eternidade. Até que ele começa a movimentar-se. Até mim.